sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Do desabafo à ação

Toda a gente tem direito de desabafar, eliminar as toxinas, esvaziar a pressão sobre o fígado e o cérebro, cuspir a indignação. E assim as pessoas vão conhecendo os que pensam o mesmo sobre o golpe criminoso que destroçou a estrutura institucional do Estado Brasileiro. 


Também é necessário ir observando como se comportam os que permanecem nos seus cargos de confiança política, agora com o novo patronato, e os que no Parlamento votam a favor das medidas demolidoras das conquistas sociais já alcançadas.

Ficamos surpreendidos com a participação de antigos partidos que um dia foram democráticos e agora votam com os golpistas. Que os militantes que ainda conservam a memória da luta contra a ditadura se retirem dessas legendas para não ficarem do lado errado. É hora de definição para prosseguirmos a reconstrução das bases institucionais do Estado e seu Governo.

Cada partido fará a reflexão sobre os seus erros, suas ausências, em busca do caminho coerente com os princípios que defende em teoria. Olhando em torno perceberá a realidade dos outros partidos, das organizações de massa, dos variados grupos de pessoas unidos em defesa das suas causas. O importante é, diante do inimigo comum, construir uma relação para seguirmos unidos. A fase das "alianças" oportunistas ficou para trás com quem não tem objetivo de luta pela reconstrução do Brasil democrático. E qual é o inimigo comum?

Não vamos começar a dar os execrados nomes dos golpistas porque a lista é longa e antiga. O importante é identificar o alvo do golpe: a estrutura do governo que abriu as portas do Estado para toda a população brasileira participar dos direitos de cidadania e melhorar o seu nível de formação e de vida. Esta estrutura estava sendo contruida por militantes da democracia, das mais variadas origens políticas, religiosas ou filosóficas, com o apoio do Estado e de governantes identificados com a mesma meta. Desde os primeiros momentos do Governo Lula começaram a se definir dificuldades para que os recursos dos mais ricos não fossem compensar a miséria dos milhões de famílias que minguavam com a fome e a miséria.

Viu-se que o sistema financeiro - amarrado aos centros de poder bancários internacionais - forjava obstáculos para não deixar que as instituições sociais do Estado atendessem gratuitamente os cidadãos mais pobres - nos setores de saúde, educação, assistência social, transportes, habitação popular, segurança pública - e começaram a surgir empresas privadas que concorriam com as do Estado e exigiam apoios financeiros. Os bancos ofereciam créditos, com remuneração para obterem maiores lucros, mas não participavam ao lado do Estado na criação de benefícios sociais. Ao ser criado o sistema de Bolsa Família, admirado em todo o mundo e elogiado pela ONU como solução para a fome no planeta, houve necessidade de acompanhar em todo o território nacional para evitar que fossem desviadas para os clientes dos chefes ricos que podiam interferir na distribuição. O trabalho dos diplomatas brasileiros foi fundamental para impedir a prepotência de governantes estrangeiros que tentavam sabotar o Brasil para que não tivesse voz entre as grandes nações que traçavam as condições políticas internacionais. Os militantes da democracia defendiam o Brasil, dentro e fora, sempre ameaçado pelos reacionários de sempre.

Com todas as dificuldades e erros ocasionais, os governos de Lula e Dilma levaram o Brasil a um patamar de importância pelo caminho democrático aberto e pela riqueza que desvendavam no seu território extraída das condições naturais mas também da produção intelectual, artística e criativa em todas as áreas do conhecimento humano, de um povo que construía o futuro com alegria.

A questão financeira sempre foi conhecida em todo o mundo por constituir uma forma de controle externo exercido pelas forças imperialistas. Assistimos através da história passada e presente nos continentes mantidos mais empobrecidos pela força dos domínios colonialistas, a permanente presença das empresas multinacionais dotadas de recursos financeiros e tecnológicos sugando a força de trabalho nativa de modo a impedir o desenvolvimento autônomo das nações dependentes. Também temos assistido à guerra fria contra os países socialistas que apoiaram a libertação dos povos durante 80 anos até que o imperialismo destruiu a União Soviética e os demais países socialistas da Europa. E, mais recentemente, acompanhamos com horror a escalada de invasões, guerras, chacinas de povos que resistem, movidas pelo imperialismo e sob o silêncio da ONU, para se apropriar de territórios ricos em minério, especialmente o petróleo, de antigas sociedades do Oriente Médio e Norte da Africa. Estas invasões criminosas destroem os Estados existentes, desorganizando as sociedades e ainda provocam conflitos internos alimentados por grupos terroristas financiados pela CIA e animados pela mídia ao serviço dos invasores.

Na América Latina, que nos últimos anos tem alcançado um nível de desenvolvimento social e econômico com governos progressistas como tivemos no Brasil, a ação imperialista tem sido menos visível por ainda não usarem os aparatos terroristas e de guerra aplicados nos demais continentes. A vizinhança dos Estados Unidos permitiu ao longo de mais de um século que os Estados marcados pelo poder oligárquico da colônia fossem permeáveis à infiltração da CIA que sempre manteve sob controle, por meio da corrupção e de outras formas de influências (criando assessorias privadas, terceirização de setores públicos etc) em convívio com as estruturas nacionais. Assim foi mantida uma política neo-liberal nos setores dirigentes da economia e finanças, apesar das iniciativas de cariz social no atendimento direto à população.

O que não se havia observado ainda era o domínio orgânico sobre o funcionamento do setor judicial, tal como o financeiro, que se revelou, com o golpe, inteiramente dominado e enredado nas malhas da corrupção que a mídia expõe por partes de modo a manipular figuras políticas como marionetes no desempenho do circo golpista. Todo o processo Lava Jato desempenhou o papel de eixo no controle meticuloso de políticos com altos cargos e de lideranças em partidos "aliados" e de juristas que passaram a defender posições partidárias pela via da "delação premiada". Lamentavelmente toda a estrutura judicial ficou paralisada e o povo se deu conta de que o Estado foi invadido por inimigos e não havia nem um setor de segurança para socorro.

Justificam-se os protestos e acusações como desabafo. Mas as conquistas sociais fazem hoje parte da história do povo que saiu do obscurantismo, do medo, da incapacidade de produzir e criar idéias. Ao alcançarmos uma unidade de esquerda, sem conflitos de aspectos secundários, definido o inimigo comum e a meta de reconstrução de uma estrutura institucional democrática brasileira, temos uma grande tarefa pela frente para ser trabalhada com energia e confiança! É hora de agir, sem vaidades e visão individualista! Em causa está o nosso Brasil!

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