quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Como entender a abstenção de metade do eleitorado



Para quem participou da campanha eleitoral e disputou a escolha democrática a ser feita pelo povo, a decepção leva a pensar que "a metade do número de eleitores não assumiu a sua responsabilidade de cidadão para escolher quem o irá representar" ao nível da política nacional.

Para quem tenta compreender porque esta maioria recusa dar o seu voto, fica a dúvida sobre a confiança que têm no processo eleitoral como uma realização democrática.

Cabe a dúvida quando vemos o pêso determinante da comunicação social na preparação dos "seus" candidatos, na promoção meticulosa com filmagem que destaca a qualidade de uns e os defeitos de outros. Cabe ainda a descrença em todos os partidos que aceitam as regras pré-estabelecidas para participarem deste jogo, que se diz democrático, espelhando apenas as posições aceitáveis no equilíbrio entre os partidos que se confrontam. Não são tocadas as divergências de fundo que os separam.

Havendo um acordo que estabelece os limites temáticos a serem abordados e um controle na manutenção do respeito formal pelos opositores, alem dos pressupostos iniciais sobre os que dirigem o jogo, grande parte dos eleitores sentem-se postos para fora do combate, ou seja, foi destruida a democracia real. E mais, os que se confrontam não são reconhecidos como lideranças dos setores que se abstêm.

Outra razão para negarem o seu voto é a experiência de eleições anteriores que não corresponderam ao que os seus eleitores esperavam: seja por não conseguirem eleger os seus escolhidos, seja por terem sido iludidos por falsas promessas, ou ainda por alegarem outros poderes mais altos que impediram a realização do prometido.

A realidade vivida é nua e crúa, para qualquer pessoa entender, mas as explicações sobre as crises mundiais, os ciclos económicos, as exigências de um poder externo, o mercado internacional e suas oscilações, assim com as falências bancárias e os processos que se arrastam contra os respondáveis pelas fraudes milionárias que não cumprem penas, estas variáveis que são explicadas quase como fatalidades, poucos entendem e aceitam.

Uma parcela cada vez maior do eleitorado não acredita nas explicações políticas porque não vê, ao longo de décadas, qualquer caminho para resolver os seus problemas que são cada vez mais graves. Deixou de acreditar até mesmo nos argumentos contrários que os partidos usam nos seus debates. Passou a olhar a todos como pertencentes a outra sociedade diferente da sua, a uma elite média.

Para agravar esta descrença, que muitas vezes projetam para a humanidade, o mundo moderno vive uma contradição inaceitável de evolução no conhecimento e retrocesso no comportamento dos poderosos: guerras injustas, invasões, massacres, tráfico de mão de obra barata, de crianças para prostituição ou venda de órgãos, emigração forçada, venda de drogas, produção de adubos tóxicos, sementes e virus que destroem a natureza para que comprem produtos substitutivos às empresas exploradoras, uso de pessoas como cobaias pela indústria farmaceutica, filmes e lívros didáticos para ensinar técnicas de violência aos jovens, organização de grupos terroristas, enfim o caos que liquida a paz e a estabilidade no planeta.

As instituições políticas não tratam tais assuntos, apenas fazem alguns pronunciamentos como protestos e pedem aos povos que manifestem a sua solidariedade. E ano a ano crescem os crimes formando as novas gerações no desespero, na oposição aos princípios éticos, na descrença. O esvaziamento por abstenção não é só na corrida às urnas, è na possível ação política de todos os quadrantes. Democracia é utopia?

Para arejar este ambiente bafiento e depressivo distribui-se alegria empacotada, em pilulas ou doces, mas principalmente em grandes eventos cheios de brilho e ruido ensurdecedor para que não haja espaço e tranquilidade para as pessoas pensarem e sentirem com os seus recursos humanos mais elementares. Tudo bem planeado para dar lucros aos investidores e distrair a opinião pública dos problemas mais graves, com aparente espírito democrático.

Zillah Branco

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