quinta-feira, 25 de junho de 2015

A discriminação contra o idoso e o assassinato "dos que não dão lucro"

Dizer hoje que não há luta de classes na sociedade capitalista é uma falácia. As elites impõem o seu domínio sobre os trabalhadores "flexibilizando as leis do trabalho" como declarou candidamente o Presidente de Portugal, Cavaco e Silva, em visita à Bulgária em Junho de 2015 ( e a seguir permitiu-se criticar o governo da Grécia por contestar as imposições escravizantes da Troika que manipula o crédito para empobrecer ainda mais a nação helênica).


Com governantes que desconhecem o sentido da soberania nacional e os direitos dos trabalhadores, o mundo está perdido.

Há classes sociais e classes nacionais sob o sistema capitalista. Os países pobres são dominados pelos mais ricos por força das armas ou do controle financeiro através dos investimentos, créditos, "ajudas humanitárias" (que são formas subtis de penetração no território, corrupção de agentes públicos, apropriação da soberania nacional e pessoal).

Dentro das classes há setores mais diretamente explorados por razões de gênero, etnia, e formas de dependência física, para além da financeira, que chega a ser excludente da sociedade civil considerada pelo sistema capitalista, e a situação explícita de escravidão. No século 21 tornou- se mais clara a relação de poder das elites em função das lutas travadas ao longo dos séculos pela emancipação dos oprimidos que conquistaram os seus direitos a nível jurídico que leva à aplicação institucional em regime democrático.

Justamente nos países europeus, que se consideram mais civilizados que as sociedades empobrecidas onde exerceram o domínio colonial, hoje destaca-se a exploração dos idosos que sofrem a perda dos seus direitos adquiridos na vida de trabalho e de criação familiar. O contraste das nações desenvolvidas com as sociedades mais pobres - que cultivam o afeto e o respeito pelos mais velhos, como depositários de um conhecimento tradicional a ser transmitido e uma referência pedagógica dos princípios humanistas a ser seguido pelos mais jovens - é a violência física crescente contra os idosos (13/1000 com mais de 65 anos são agredidos na Europa, sendo 120/1000 em Portugal), isto para não falar no tratamento depreciativo habitual, no abandono, no desprezo e, agora, na aplicação das leis de austeridade para enfrentar as dívidas externas criadas por governos neo-liberais, quando cortam as pensões e benefícios sociais de transporte e habitação, criam taxas moderadoras para o acesso aos serviços de saúde e atividades culturais, deixam no desemprego os filhos e netos que sobrevivem com a ajuda dos mais velhos.

Tais medidas, que condenam os idosos à pobreza depois de uma vida de trabalhos e pagamentos de taxas à Previdência Social, provocam depressões, suicídios, doenças mentais como fruto do desespero. Percebe-se, pela lógica do sistema dominante, que os poderosos criaram uma maneira de apressar a morte dessa parcela da população que é considerada improdutiva para a acumulação do capital. Paralelamente, e com o mesmo objetivo, bombardeiam populações pobres no Oriente Médio causando milhões de mortes, criam exércitos mercenários e terroristas como ponta de lança para invadirem territórios ricos em petróleo e outros minérios, incentivam grupos que organizam viagens de barcos no Mar Mediterrâneo para serem abandonados às tempestades ou ao eventual socorro de países europeus que encontrem com vida.
Há quem desenvolva uma teoria para explicar em termos de "ciclos históricos" as mortes de populações inteiras como se fossem "sangrias" que permitem a restauração do equilíbrio da humanidade no planeta. Se fosse algo tão natural e necessário, não escolheria os mais pobres (como o sistema capitalista sempre faz quando impõe a austeridade ou cobra o imposto que alimenta a Previdência Social, ao proteger a sua elite).

Como hoje está sendo denunciado com comprovação idônea, "um relatório dos Serviços de Informação dos EUA em Agosto de 2012 acompanhava a possibilidade de um "principado Salafita" no Leste da Síria e de um "Estado Islâmico" controlado pelo Al- Qaeda na Síria e Iraque (Guardian, 3.5.15). Estas forças terroristas agora são as que provocam os massacres e bombardeamentos responsáveis pela fuga de milhões de habitantes como emigrantes, assim como os bombardeamentos pela Nato nos países do norte da Africa com o assassinado do Presidente Kadafi da Libia e a prisão do presidente egípcio e tantos outros, desorganizaram a vida das populações que fogem aterrorizadas para uma suposta liberdade na Europa que os rejeita. Seria muito ingênuo pensar que os contrabandistas que oferecem viagens de barco pelo Mediterrâneo para os abandonar à morte por fome ou naufrágio não estivessem cumprindo uma "missão justificada pela teoria dos ciclos de sangria da humanidade".

Temos dificuldade em acreditar em tais factos reveladores de uma perversidade sem limites. Mas a União Europeia e o FMI têm demonstrado uma frieza criminosa ao rejeitarem os argumentos da Grécia que recusa continuar a ser empobrecida e a perder a sua soberania exigida pelo programa de enriquecimento construído por credores sem qualquer noção de decência e honestidade, básicos para a humanidade. Os defensores do sistema capitalista, que para salvar a riqueza acumulada mata milhões de seres humanos, não querem supor uma alternativa humanista que é indicada pela filosofia socialista onde não há uma elite privilegiada. Preferem fechar os olhos à todos os crimes que hoje horrorizam o mundo inteiro.


quarta-feira, 24 de junho de 2015

A importância do conhecimento da estrutura capitalista e seus mecanismos de dominação




O estudo sobre a evolução do sistema capitalista no Brasil, que aperfeiçoa  a estrutura de poder econômico e financeiro ainda dominante, deixa à margem a dinâmica dos movimentos de esquerda assim como todos os fatos históricos relacionados com a população que se situa marginalmente à sociedade civil. Estes são objetos da análise socialista - os pobres, os grupos segregados, os movimentos de defesa e a luta pela inserção social plena, os partidos políticos de oposição ao sistema dominante, a não aplicação de leis sociais, os privilégios de classe sobre a justiça, e as formas de corrupção inerentes ao capitalismo.

Nas condições de um país subdesenvolvido, que carregou durante séculos o peso da colonização representada pela oligarquia rural ligada sempre à estrutura de poder nacional, que se adaptou ao neo-colonialismo e à sua expressão moderna de neo-liberalismo dependente das nações ricas e do mecanismo financeiro imperialista, o Brasil ultrapassou as economias vizinhas e recebeu ajuda externa para ser promovido como parceiro graduado no cenário internacional capitalista. Não só o extenso território tropical e as suas riquezas naturais atraíram a simpatia externa, mas também as suas características culturais e a sua expressão intelectual enriquecida pela miscigenação e abertura às influências das escolas estrangeiras. Apareceu como um enclave na América Latina susceptível de representar o sistema capitalista dos países mais ricos, ou ao contrário, liderar os povos vizinhos com um projeto de união dos Estados de Direito contra as pressões capitalistas para uma subordinação ao imperialismo com a perda da dignidade nacional de cada país.

A implantação do pensamento socialista revolucionário é lenta e difícil, sobretudo pelo êxito do capitalismo e a massiva publicidade enganosa facilmente divulgada pelo monopólio dos meios de comunicação e pelo uso indevido dos conceitos de democracia e desenvolvimento que visam exclusivamente as classes consideradas na escala civil do poder. As instituições de ensino de nível acadêmico que recorrem ao estudo de Marx e Engels sobre o capitalismo, e aos autores que contribuíram para o enriquecimento da sua obra, fazem-no de forma a não valorizarem a sua vertente militante, o que sacrifica a compreensão do antagonismo político entre as metas do capitalismo e a do socialismo.

Mais que os estudos teóricos, a militância capitalista se realiza como fonte do conhecimento histórico e das ciências sociais que condiciona a cultura dos povos através do monopólio dos meios de divulgação. Assim é formado um pensamento capitalista como se fosse o único válido sob o domínio do sistema imposto. É comum confundir-se a história nacional com a do sistema que domina aquele território há centenas de anos.

As Guerras Mundiais, iniciadas em 1918, alteraram o caminho da formação de um poder imperialista que pretendia impedir o surgimento de um sistema socialista como o que foi implantado na Rússia. O ímpeto com que se desenvolveu o fascismo de Mussolini e o nazismo de Hitler em busca do domínio de toda a Europa, levou os centros de desenvolvimento capitalista industrial a dependerem do apoio Soviético para vencerem o inimigo comum naquela guerra.

Apesar da permanente pressão que mantiveram contra o socialismo, inclusive levantando uma "cortina de ferro" para impedir a expansão do sistema soviético, antagónico nos seus ideais ao capitalismo, o êxito alcançado pela nova potência mundial, que além de manter fortalecidas as Forças Armadas e desenvolver pesquisas científicas ao nível dos antigos aliados capitalistas, deu apoio a todos os povos em luta pela independência nacional e contra as várias formas de exploração colonialista e feudal. A independência de várias nações colonizadas e a formação de uma consciência progressista e democrática nos países subdesenvolvidos foram fruto do apoio de um sistema socialista através de ampla formação universitária e debates internacionais sobre todos os temas referentes à emancipação do ser humano e de suas sociedades.

Os mentores do imperialismo criaram centros de estudo das idéias socialistas que conquistam os povos de todo o mundo, independente das origens culturais, para criarem antídotos que favorecessem o capitalismo. Somente com a divulgação alarmista do falso "perigo comunista" conseguiam que populações incultas e dominadas por medos religiosos recusassem o sistema socialista. Para incutirem a idéia de que o capitalismo pode ser humanizado e atender às necessidades socio-economicas das populações mais carenciadas, adotam medidas de "caridade" e palavras populistas que iludem os menos avisados das suas intenções de manipulação.

Tornando a comunicação social um monopólio do poder capitalista, passaram a controlar o cinema, as rádios e depois a televisão, para inocular uma cultura através da qual pudessem impor a sua lógica de pensamento na formação da opinião pública mundial. A queda do nível mental dos programas foi logo percebida por quem conhecera um cinema livre mesmo produzido nos Estados Unidos antes da repressão do "mackartismo", e em diferentes países surgiu um novo cinema que rompia o estreito controle ideológico com os filmes realistas do pós-guerra. O mesmo ocorreu nas rádios e na televisão, apoiados nas edições de livros e revistas que escapavam ao controle. Dialeticamente o controle policialesco e medíocre espicaçou os autores que, para defender a liberdade de expressão, tornaram-se militantes de uma cultura aberta.

Os centros de estudo criados com vista à criação de uma elite intelectual que serve de estrutura para a constituição de um governo mundial sob o controle imperial, aprofundaram os estudos sobre a essência do pensamento socialista e deram início a uma aparente adesão teórica aos textos de autores comunistas para produzirem idéias que tergiversam os fundamentos ideológicos sem os confrontar. Sobretudo através da publicidade enganosa escoa uma terminologia elaborada sobre falsos conceitos que confunde o entendimento do público desavisado. O termo "dialética" foi banido nos textos sobre desenvolvimento social e econômico. Quando não pode deixar de ser utilizado, referem o conceito de Hegel anterior à Marx. Recentemente foi banalizada a expressão "mais valia" equiparada à "lucro" ou até mesmo a "vantagem", omitindo o conceito que Marx definiu para "o valor não remunerado do trabalho". Este caminho de absorção dos conceitos socialistas para que sejam revestidos de um sentido capitalista hoje está de tal forma banalizado que líderes do sistema capitalista se apresentam despudoradamente como se fossem o seu contrário para conquistar votos. É a velha história do lobo vestido de cordeiro.

Na Europa, o Clube Bildenberg, que desenhou a estrutura e ambição da União Europeia (em  busca da união do capital e não dos Estados independentes), formou uma geração de burocratas para atuarem como altos mandatários em todos os Governos e no sistema financeiro das diferentes nações. Hoje aparece claramente a origem da crise que determina a perda da independência nacional dos países que aceitaram (preconizado pelo neo-liberalismo) créditos desnecessários para o desenvolvimento das respectivas forças produtivas e que escoaram por meios ilícitos de corrupção para uma elite bilionária enquanto a população suporta o desemprego, a perda salarial, a fome e a dependência (como se fosse uma colônia dos mais ricos), imposta pelo regime de austeridade para pagar uma dívida que não é sua.

O importante será os defensores de um sistema alternativo, de ideologia socialista, aprofundarem os estudos sobre o sistema capitalista e suas falhas de modo a desmascarar as fraudes e preparar as lutas com objetividade e conhecimento da realidade em que vivem os povos. A meta do sistema socialista é a organização da sociedade tendo em vista o bem estar da população e a sua capacidade de desenvolvimento humano a partir do melhor aproveitamento das forças produtivas. O objetivo do sistema capitalista é a acumulação do capital nas mãos de uma elite exploradora que controle o poder sobre as sociedades.

Brasil

A ditadura de 64 no Brasil, coincidente com outras no continente latino-americano durante a década de 1960, e o despertar da consciência nacionalista de setores empresariais e intelectuais conservadores, somado ao repúdio aos vícios do autoritarismo que afrontavam uma formação religiosa e humanista, gerou condições favoráveis ao pensamento socialista e revolucionário inspirados na experiência e no êxito da sociedade cubana.

Mesmo durante o período ditatorial no Brasil, foram realizadas importantes experiências democráticas a nível de administração pública em várias cidades e incentivados múltiplos movimentos de ação social e política que semearam a resistência democrática por todo o país ao autoritarismo e à exploração dos trabalhadores. À margem da sociedade civil aprofundaram-se as idéias e as formas de organização da esquerda nacional que pesaram no combate à repressão e às forças mais conservadoras subordinadas ao imperialismo.

O fantasma do "anti-comunismo", conveniente ao pensamento capitalista em geral e ao domínio imperialista, abriu o caminho para o recurso à ajuda externa que minou a consciência nacionalista e propiciou a implantação do neo-liberalismo. A promoção no Brasil, de intelectuais cepalinos estudiosos da análise marxista do capital permitiu a introdução de novos conceitos na análise clássica do sistema capitalista sem o conteúdo militante ideológico do autor do Manifesto. A vida acadêmica de Florestando Fernandes ocultou a sua formação marxista, que se manifestou plenamente em atos de solidariedade com movimentos de esquerda mas só foi assumida militantemente quando expulso da USP pela ditadura.

No Brasil, o desgaste da política submissa ao imperialismo acentuou-se com o governo neo-liberal de FHC, o que levou ao poder um líder operário, sindicalista e identificado com as regiões menos desenvolvidas do país que sempre foram marginalizadas pelo sistema capitalista que prioriza a industrialização e a concentração do capital vinculado ao sistema financeiro internacional. A vitória de Lula fortaleceu a esquerda que integra várias tendência unidas até então sob a bandeira ampla da democracia e de contraditórios conceitos de Estado Social. A imagem de Getúlio Vargas, como republicano e nacionalista foi assumida pelo Presidente Lula que defendeu com grande coragem a independência nacional econômica e política, a integração de extensas faixas da população pobre nas condições de cidadania, a união com os povos vizinhos que lutam pelos mesmos objetivos e a solidariedade internacional com os processos de libertação de povos oprimidos. Não foi possível ainda criar um Estado de Direito devido à luta interna entre as tendências representadas por políticos que se apresentaram como aliados para preservarem algumas esferas de poder que levantam dificuldades no Congresso para aprovação das mudanças necessárias sobretudo nos organismos sociais.

Dentro do Brasil teve início, entre aliados de Lula, um conflito pela partilha do poder econômico e político, nos moldes do passado, com o apoio do imperialismo e do sistema capitalista mundial. A reeleição de Dilma só foi possível com "o voto dos pobres e do Nordeste". Cabe sublinhar que este eleitorado vitorioso traduz a força de esquerda cuja estrutura abrange movimentos e tendências diversificadas que têm como meta a construção de um sistema socialista de produção, livre da elite poderosa gerada pelo capitalismo. Este eleitorado apoia o Governo definido por Lula e seguido por Dilma mas manifesta permanentemente o seu desacordo com medidas neo-liberais que contrariam os princípios de independência e desenvolvimento das forças produtivas nacionais e da construção de um Estado de Direito que atenda democraticamente a população e distribua de maneira equilibrada a renda com investimentos que fortaleçam a nação e o seu povo.

Verifica-se, por outro lado, o crescimento de uma consciência de cidadania em toda a sociedade civil e nas camadas pobres e marginalizadas do sistema capitalista vigente. Dadas as dificuldades de integração social com o apoio das instituições do Estado devido às obstruções dos conservadores (que, acossados pela crise mundial do sistema capitalista, chamam o antigo fantasma do comunismo em sua defesa) mantém-se um vazio de poder manipulado por quem sabota os serviços do Estado, com os recursos da paralisação burocrática, as determinações diretas da Presidente.

Desenvolve-se, entretanto, de maneira crescente a ideologia que tem por meta o socialismo como a única capaz de criar um Estado de Direito, e a representação da esquerda em Partidos e Movimentos Sociais toma vulto nos processos eleitorais e de protestos objetivos contra tanto as decisões governamentais que vão contra os seus interesses, como o não funcionamento das instituições. Pela primeira vez o Partido Comunista do Brasil conquistou o cargo de Governador no Maranhão destronando a velha oligarquia da família Sarney com o apoio da maioria dos partidos locais. Cidades desenvolvidas, como Jundiaí por exemplo, no Estado de São Paulo e a Prefeitura de São Paulo têm uma orientação de esquerda, comunista ou petista.

A nível do Governo Federal assiste-se a um braço de ferro suportado pela presidente Dilma contra os conservadores que se apresentaram nas eleições como aliados, de onde saem resoluções defendidas nas ruas pelas forças sociais, como o aumento dos salários, o esclarecimento sobre os crimes cometidos durante a ditadura, o relacionamento com a China contrário aos mecanismos de crédito criadores de dependência nacional oferecido pelo imperialismo. Ao contrário do que a estabilidade capitalista necessita, a Presidência da República recebe diretamente o apoio popular para realizar importantes medidas de transformação na sociedade, inclusive através de investimentos em empresas nacionais e nas infra-estruturas necessárias ao desenvolvimentismo.

A evolução do sistema capitalista está interligada dialéticamente com a do sistema socialista que, tendo como objetivo o desenvolvimento das nações a partir da criação das melhores condições de vida e de formação pessoal dos cidadãos e não a acumulação do capital para o enriquecimento da elite no poder, envolve ações de oposição e aprofundamento da luta social. O conhecimento das características de aperfeiçoamento das formas de organização como base do desenvolvimento da sociedade nos dois sistemas tem beneficiado a humanidade nas suas experiências históricas apesar dos conflitos naturais entre metas antagônicas no plano político.

Zillah Branco