quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Saindo das nuvens da "boa intenção"

A definição habitual, que consta dos manuais escolares e é amplamente divulgada através dos meios de informação social, é de que a sociedade capitalista é liberal, tecnoburocrática, de bem estar social e democrática. 


Tais conceitos correspondem às conquistas populares dos cidadãos na história, desde o século XVIII com a formação dos Estados Nações, das empresas não familiares como unidade básica (século XIX) e a conquista do sufrágio universal para que as estruturas de poder fossem escolhidas pelo conjunto da população.

Bem sabemos que a lógica do capital privado impõe a existência de uma classe dominante que concentra os benefícios sociais do Estado e a maior parte da riqueza produzida, o que impede que a maioria da população tenha formação e condições de vida para obter os privilégios da elite que a explora. O liberalismo assegura que a meritocracia seja aplicada entre as famílias que manejam o capital para formar o estrato tecnoburocrático que responde pela organização das instituições sociais inclusive a aplicação das leis e a noção de democracia e bem estar social, tendo em consideração apenas os estratos superiores da sociedade que apoiam a elite. Portanto, para a grande maioria popular, a democracia e o bem estar social deixam de existir e só são aplicados mediante a expressão de força dos trabalhadores que exigem os seus direitos trabalhistas e melhores condições de vida garantidas pelo Estado de Direito.

O falso conteúdo democrático e de respeito pelos direitos humanos do sistema capitalista é apregoado como verdade através dos meios de informação social para impingir uma cultura artificial e desenvolver a submissão às falsas ideias e ainda uma moral patriótica que leva a assumir as dívidas e os erros cometidos pela elite na administração da vida nacional em benefício da classe dominante. O sufrágio universal também é uma bandeira manipulada pelos donos do capital e dos instrumentos de poder que, nas campanhas eleitorais, apresentam-se como democratas e prometem soluções para os problemas populares sem referir os planos tecnoburocráticos que impedem a transferência dos lucros empresariais para serviços públicos de um Estado Social.

Foi criado o conceito de "austeridade" para que toda a população aceite como um dever moral patriótico pagar os erros e desmandos da classe dominante no exercício do poder. Dessa forma a democracia é anulada, predominando o autoritarismo da elite que age ditatorialmente sempre de acordo com o apoio que a direita recebe nas eleições, concentrando em suas mãos o poder e o capital e aplicando as medidas de austeridade às camadas mais pobres da sociedade.

Portugal, que conserva a memória das conquistas de Abril assinaladas no texto da Constituição Nacional, e mantém um forte movimento sindical que defende o Estado de Direito intransigentemente, votou contra a política do governo (que cumpria as ordens da Troika na transação financeira do património) o que depauperou a economia portuguesa e empobreceu a classe trabalhadora. Criou uma maioria de esquerda que venceu a alternância de direita que controlava o poder desde 1976.

Resultados da eleição a 4/10/15 que os defensores da estabilidade da direita e do sofrimento popular fazem por desconhecer:

PÀF = 38,8% = PSD/CDS (direita) PS. = 32,4% (centro-esquerda) BE. = 10,2% (esquerda)
CDU=. 8,3% = PCP/ Verdes (esquerda) PAN= 1,4%
PDR=. 1,1%
Abstenção = 43,03% (desencanto com a política governamental)

O PS, aceitou desempenhar o papel de esquerda que consta do programa social- democrata formando uma maioria com o apoio dos partidos de esquerda para derrotar a coligação de direita desmoralizada pelo governo catastrófico que enfraqueceu Portugal nos últimos anos. Apesar das responsabilidades que a social-democracia teve nos obstáculos que levantou às conquistas de Abril, a Europa hoje está a perder força política e económica para o imperialismo invasor, liderado pelos Estados Unidos, o que promove um reajuste nos programas dos partidos nacionais que conservam um compromisso com a esquerda, diante da ameaça à integridade e independência de cada nação.

Os mitos criados pelos defensores do capitalismo - de uma elite democrática que divide a austeridade com todo o povo para salvar a honra nacional - cai por terra quando despreza os partidos de esquerda para que os governantes possam ter estabilidade (poder absoluto) para aplicar programas de interesse privados em nome da pátria, defendem uma lei que se aplica contra a classe trabalhadora e é omissa em relação aos frequentes crimes dos seus parceiros no poder, enriquecem enquanto o povo cai na miséria, curvam- se às imposições de agências financeiras estrangeiras que passam a dirigir a vida nacional, que raciocinam em termos de crescimento do capital e não do desenvolvimento das forças produtivas - tais mitos, amplamente promovidos pelos meios de comunicação social como verdades, caíram em descrédito diante das evidências que os representantes de forças de esquerda em Portugal, provaram infinitas vezes no Parlamento e deram a conhecer a toda a população no incansável trabalho militante que fazem nas ruas.

Em Portugal, um dos muitos casos reveladores dos privilégios de uma elite milionária que fala em nome de uma pátria que é de um povo trabalhador e pobre, foi o da família Espirito Santo proprietária de um banco centenário que fez péssimos negócios com o dinheiro dos seus depositantes e foi à falência. Os contribuintes do país viram os créditos estrangeiros serem desviados para ajudar as instituições financeiras privadas (como se fossem a pátria), não remuneraram os depositantes que confiaram as suas poupanças ao famoso banco e recheou os bolsos dos executivos que ficaram sem o emprego. O grande responsável da falência obteve uma reforma de 90 mil euros mensais, enquanto que o salário mínimo não consegue chegar a 500 euros mensais e o número de emigrantes jovens cresce para não aumentar o número de desempregados que se marginalizam na sociedade do "faz de conta" exibindo mega-eventos para distrair os tristes.

Neste ambiente de falsas festas e muita miséria, a juventude se afasta dos princípios sólidos de uma civilização que sempre trabalhou, e cai no desespero que promove as drogas e o terrorismo como solução. O terror assustou Paris, pouco depois de ter assustado o Líbano, e de ter sido abortado por sete vezes na Inglaterra (segundo declarou o Primeiro Ministro do país), e o Presidente francês depois de bombardear o chamado Exército Islâmico (com o vigor dos terroristas, disse) na destroçada Síria, reconhece que os terroristas de Paris eram franceses que viviam na marginalidade e aderiram a uma causa pretensamente religiosa estrangeira. E a responsabilidade pela marginalidade que impera nos países europeus é de quem?

Vamos rever a história moderna dando o nome aos bois. Chega de mitos porque a vida é séria para quem trabalha e cultiva princípios civilizatórios como a ética e a responsabilidade na educação social.

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