quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Raciocínios diferentes

Avante! 06/01/14
Ao assistirmos às entrevistas nos grandes media percebemos que frequentemente o entrevistado e o entrevistador utilizam o mesmo idioma e o mesmo tema em debate mas raciocinam como se o pensamento de ambos não correspondesse a uma mesma perceção da realidade.
O Governo de Portugal, e o seu Presidente estão preocupados com o modelo europeu e os acordos que assinaram e continuam a assinar e consideram existir a necessidade de o povo português «honrar» os compromissos assumidos, sem se aperceberem de que o povo não escolheu este modelo cujo objetivo gira apenas em torno do «ganho financeiro amealhado pela banca e empresas multinacionais» mas sim acreditou que o princípio de união europeia visa a defesa da qualidade de vida dos trabalhadores, que são os povos das nações europeias. Honrar compromissos significa atender às necessidades humanas de vida e desenvolvimento nacional, e não, como repete o Governo, pagar as faturas do consumismo deliberado pela elite governativa de acordo com os seus interesses megalómanos de classe desde que deram início à destruição das conquistas de Abril.
Exprimam com clareza os princípios éticos que utilizam, mais preocupados com o acordo ortográfico das editoras globalizadas do que com os compromissos patrióticos e humanistas que os governantes têm com o povo que o elegeu. Não tentem ludibriar, com uma linguagem dúbia de ênfase moralista, pessoas que confiaram na idoneidade dos eleitos que hoje estão destruindo a economia nacional privatizando os serviços públicos, despedindo os trabalhadores e massacrando com o peso da miséria os idosos e deficientes que, com as suas fracas pensões, ainda têm de ajudar os familiares jovens (a mão de obra válida formada por Portugal) desempregados.
Vamos refazer o vocabulário – patriótico, honra, respeito pelo idoso, povo, património nacional, condição de vida, salário, direitos de cidadão, etc. – que têm significados opostos para os que acatam a Constituição de Abril e os do bando que a espezinham.

O planeta é redondo e gira em torno do Sol. Quando faz calor no Sul é Inverno no Norte. Em um mesmo Império, o Britânico, no Canadá morrem de frio, como nos Estados Unidos, e na Austrália os incêndios devastam plantações, casas e gente. Mesmo assim, o que acontece do lado oposto ao «meu» vai alterar as condições da «minha vida».
Isto é demonstrado com maestria e atualidade o livro de Kathrine Kressmann Taylor, escrito em 1938 sob o título «Desconhecido Nesta Morada». Divulgado e traduzido em várias línguas ao começar a Guerra contra o fascismo na Europa, foi proibido pelos nazis e ficou em silêncio por meio século quando a Guerra se tornou fria. Hitler fora vencido pelos aliados que precisaram incluir a URSS para alcançarem a vitória.
Hoje sabemos que apesar de mortos os líderes nazistas, o fascismo não morreu. Apenas foi congelado para reaparecer como Primavera em diferentes países da Europa e no Oriente Médio depois que a URSS foi liquidada.
«Uma história dos tempos modernos que é a própria perfeição. O mais eficaz dos libelos contra o nazismo alguma vez surgido numa obra de ficção», escreve o The New York Times Book Review, e Publishers Weekly acrescenta : «Desconhecido Nesta Morada serve não apenas para que não se esqueçam os horrores do nazis, mas também como um aviso face a atual intolerância racial, étnica e nacionalista»; o livro é republicado em Lisboa em 2002 pela Editora Gótica, coincidindo com a salutar viragem política no Brasil trazida por Lula e mantida por Dilma.
O livro é escrito sob a forma de cartas entre um judeu norte-americano proprietário de uma galeria de arte em San Francisco e o seu antigo sócio que regressara à Alemanha. Revela as perversidades que o nazismo despoleta e que o alheamento em que vivem os privilegiados que ainda gozam os bons efeitos do sol fechando o entendimento à moderna escalada fascista que assola as populações mais pobres unidas pelo euro à rica União Europeia que se casa com o FMI.
Eu não gosto de estragar a festa, mas convém prestar maior atenção aos efeitos das mudanças climáticas e políticas, e ao florescimento nazi crescente e à miséria que mata na África e na Ásia e institui a moderna escravidão dos que emigram devido ao desemprego gerado pelo poder financista que substituiu a velha monarquia da ex-rica Europa.

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