domingo, 23 de setembro de 2012

Ping-pong da responsabilidade pela educação


23 DE SETEMBRO DE 2012 - 10H31 

Zilah Branco: Pingue-pongue da responsabilidade pela educação


Os atos de violência de jovens nas escolas se sucedem como uma onda nova de comportamento social descontrolado entre estudantes considerados normais. Os pais culpam as escolas e os professores "que não educam" e os responsáveis pela educação atiram as "culpas" para o Estado e o governo "que não cria condições adequadas para evitar vandalismos e proteção policial", mas também para as famílias "que não educam nem controlam os filhos". 

Por Zillah Branco*, especial para o Vermelho


Trata-se de um pingue-pongue absolutamente irresponsável enquanto a juventude é vista como uma peteca em uma sociedade caótica onde ninguém quer assumir a responsabilidade vista como "culpa".

Em primeiro lugar, será interessante discutir alguns conceitos de origem cultural-religiosa muito repetidos em uma análise "paternalista" das questões sociais. A "culpa"corresponde a um "juízo moral" dos que estão em uma situação "superior" à população em geral e aos seus filhos e "dependentes familiares".

Não há "culpas", mas sim responsabilidade humana e social. Não se pode falar na responsabilidade familiar sem referir as instituições disponíveis no Estado e coordenadas pelos poderes políticos - Executivo, Legislativo e Judiciário -, que organizam a sociedade e apoiam os cidadãos e suas famílias.

E os poderes - Executivo e Legislativo - são formados pela via das eleições democráticas que depende do voto do cidadão adulto.

A democracia deveria abranger também o terceiro poder, Judiciário, e garantir aos cidadãos a capacidade de escolha dos seus candidatos sem fazer uso de recursos promocionais (de altíssimo custo financeiro que onera os recursos públicos) e não informam com isenção sobre os reais compromissos do candidato. Mas isto ainda não acontece, o que limita a educação social dos cidadãos e reforça o poder da elite que é mais organizada e dispõe de propriedades, recursos financeiros e acesso às técnicas e instrumentos de informação.

Diante deste quadro, as reações individuais aos problemas sociais dividem-se em dois campos: o dos conservadores que são beneficiados e dos submissos que desanimam diante da necessidade de mudar a situação social, por um lado; e dos que trabalham por mudanças onde a democracia é a referência fundamental, buscando informação e formação para participar com determinação. A formação cívica será decorrente dos passos deste segundo lado. Entre os descontentes, principalmente os mais jovens, muitos resolvem agir pessoalmente e com as suas forças para impor as mudanças.

Frequentemente é detonada a violência entre os dois lados. A responsabilidade por tais ações voluntaristas é da situação social onde a democracia não foi implantada devidamente.

Começar por onde? Não há uma ponta inicial, o processo de mudança depende de todos os participantes. O lado conservador sofreu dois abalos no seu antigo poder: os atuais poderes governamentais receberam elementos não conservadores e apresentaram programas de mudança democrática para as instituições do Estado e, a nível internacional, o sistema capitalista sofre uma profunda crise que só será superada se aceitar a democracia como base de atuação.

Objetivamente estamos perante o caos que abre a possibilidade de mudança. Deixemos de lado a ideia de "punir os culpados" e vamos promover a participação dos cidadãos e a colaboração entre todos os que desejam realmente a democracia.

Os que agem ao nível das famílias vão perceber que a criança ao nascer encontra uma mãe em luta pela sua emancipação para não ser dominada pela velha cultura machista. Mas não há estrutura de apoio para esta mãe tornar-se uma educadora. Ela não tem tempo para se dedicar maternalmente ao filho e recorre às fórmulas de "compra" do sorriso da criança (que se tornará manhosa e exigente, em consequência, e angustiada como se fosse órfã). O pai, privado das condições do machismo que liberavam o homem das tarefas domésticas e de criação dos filhos, perde também a sua autoconfiança baseada no poder.

A família hoje está desestruturada pela mudança cultural da sociedade e não pode solucionar os problemas que enfrenta, sem o apoio institucional e coletivo que a sociedade cria. A disciplina, como instrumento de equilíbrio, deixou de ser considerada com a quebra dos valores conservadores, tanto nas famílias como na sociedade em geral. 

Os poderes políticos que coordenam o Estado têm a função de legitimar a disciplina para garantir a segurança pública e a liberdade de crescimento saudável das crianças e jovens. Impedir os abusos e imposições dos que se consideram "superiores" não se confunde com autoritarismo nem com o paternalismo dos conservadores que protegem os "inferiores", pois é a defesa da democracia que assegura a liberdade de todos e não de uma elite.

É na educação coletiva da creche que a criança começa a ser educada. Ali existe uma disciplina que é comum para todos e aparece como um recurso para gerir o tempo e os recursos e não como um privilégio de alguns ou uma limitação ao que cada criança deseja. Mas há poucas creches no país, faltam estruturas e a formação profissional é deficiente em todo o país.

Com os mesmos problemas educativos e sociais segue o sistema escolar, o que vai ser agravado pela educação e cultura veiculados pela mídia sem qualquer controle democrático e institucional. Existem sérias contradições entre a educação transmitida pela mídia, a publicidade, os eventos culturais, os abusos da elite poderosa, e a orientação pedagógica do sistema escolar. A criminalidade crescente nas ruas cerca a juventude nas escolas, criando a necessidade da defesa civil fora dos muros da escola e também dentro, entre os alunos.

O atual governo prossegue a criação de uma política pública de educação e a criação de uma rede escolar. Grandes passos foram dados com a implantação da alimentação e com a compreensão holística da educação ligada ao esporte e ao ambiente. Os temas das aulas conduzem à consciência de cidadania, portanto ao civismo. A distância que ainda existe entre uma riquíssima base pedagógica que no Brasil foi legada por brilhantes educadores desde o início do século 20 (Lourenço Filho, Anísio Teixeira, Paulo Freire e tantos outros) e a implantação de uma moderna política educacional em todo o território
nacional, depende da participação dos cidadãos e da interligação entre todos os níveis administrativos e dos três poderes nacionais.

O processo de democratização de um país não está isolado no mundo. A luta travada pela população brasileira passa pela defesa em relação às ameaças externas que estão presentes nos meios de informação, como no aprendizado diante da realidade de outros povos. O cidadão forma-se politicamente fortalecendo a solidariedade que faz parte do civismo.

A violência como moda internacional

A falta de estabilidade familiar e social cria o ambiente propício para a formação da criança individualista, fechada em si, egoísta por não reconhecer o outro como seu complemento na vida. Estas características coincidem com o estímulo do sistema capitalista no indivíduo, na elite, na apropriação dos recursos naturais, na escravização da população mediante a diferenciação de renda, na criação de corporações e multinacionais poderosas cujo poder é maior que o do Estado.

Solitária no seu casulo antissocial, a criança elabora uma personalidade agressiva e violenta que vai se espelhar no modelo de força mundial que predomina nos jogos, vídeos, músicas, novelas, cenários de guerra, notícias de invasões, políticas terroristas e toda uma forma publicitária de ameaças de vírus e doenças para subordinar as pessoas aos produtos defensivos oferecidos pelos donos do poder planetário.

Qualquer pessoa capaz de observar com afeto uma criança no seu desenvolvimento percebe a necessidade urgente de lutar pela sua defesa. 

Desde a primeira infância ela está exposta ao egoísmo de adultos que a tratam como objeto lúdico sem qualquer preocupação com os efeitos das suas atitudes sobre a saúde física e mental do bebê. O comportamento será o reflexo deste "uso" feito pelo adulto que, quando se desinteressa do jogo exerce autoridade para inibir respostas e lágrimas.

A sociedade, através das imagens transmitidas repete o modelo onde os heróis (que se identificam com os primeiros adultos que despertaram o seu amor e medo) comandam os mais fracos. Nas escolas os adolescentes se confrontam diretamente com a situação que define a humanidade dividida em superiores e fortes ou inferiores e fracos. As duas opções deformam psicologicamente o ser humano e deixam a violência como solução de sobrevivência.

A alteração social desse comportamento destrutivo que se consolida na cultura nacional exige a interação institucional e a participação cidadã para aplicar uma política educacional amplamente analisada à luz dos princípios éticos democráticos que a pedagogia encerra. Os meios de informação devem assumir as suas responsabilidades para corroborar como instrumento de cidadania. O entendimento da liberdade de expressão supõe bom senso e respeito pela sociedade com seus valores e políticas educacionais. Os temas impactantes, como, por exemplo, os de promoção do herói-vilão, não devem estar ao alcance das crianças como espectadoras, apesar da sua importância como reveladores de uma realidade. Assim como as críticas a posições religiosas ou características culturais de seitas e setores raciais, não devem ser divulgadas como formas de preconceitos e armas políticas de conflito social.

A elaboração de imagens e textos que respeitem os princípios estabelecidos a nível nacional enfrentará contradições com a violência dominante no palco internacional onde atua o império agressor sobre povos enfraquecidos pela miséria e infiltrações criminosas.

Socióloga, militante comunista e colaboradora do Vermelho

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Datas marcadas pelas forças do imperialismo



Estava com meus filhos em Santiago do Chile há 39 anos atrás, quando o navio norte-americano que transportava uma "orquestra militar" e aportara em Valparaiso, revelou-se como base da CIA que apoiava o golpe de Pinochet. A primavera chilena, que era anunciada pelo florescimento das amendoeiras em toda a cidade, foi abafada por um dia cinzento fechando as suas flores. A população chilena, que  construía a democracia com Allende, teve as suas esperanças esmagadas.

Sob o cruzamento de bombas descarregadas sobre o Palácio de la Moneda e a residência de Allende, agarrei-me aos meus filhos com a força do instinto materno diante da perda do socorro humano. A violência da invasão terrorista daquela sociedade humanista e valorosa assemelhou-se ao grande terremoto que um ano antes nos havia deixado com a mesma sensação de desamparo absoluto. Uma criança de 10 anos perguntou: "Matam a esquerda na América Latina?" Respondi como educadora apesar de estar gelada de medo: "Não, meu filho, os povos latino-americanos vão expulsar o imperialismo".

A luta continua, agregando novos contingentes sociais. A destruição de populações que sobrevivem à miséria com a esperança de militantes dos movimentos pela paz e pela liberdade do ser humano espalhou-se por todo o mundo condenando à morte a natureza planetária. Hoje, a defesa da democracia, assim como da natureza, penetra a consciência política de setores mais ricos da sociedade que percebem a necessidade de dividir os seus lucros empresariais com a salvação e educação da humanidade trabalhadora.

Em outro dia 11 de Setembro, no ano de 2001, as forças terroristas do Império usaram como alvo da sua escalada as Torres Gêmeas de Nova Yorque. O objetivo seria destruir o caminho democrático que penetrou na consciência da nova geração de empresários que acordam para a necessidade de respeito pelo planeta e pela humanidade?  Se foi, não conseguiu impedir que as crises do sistema continuassem a esclarecer a elite que começa a perceber que se a sua classe continuar como parasita na sociedade estará condenada a afundar no desastre planetário sem utilizar os seus recursos acumulados e o seu conhecimento para criar soluções para a humanidade da qual faz parte.

A evolução do pensamento da elite passa pela subordinação cultural que têm em relação ao mercado e às ferramentas que alteram o seu comportamento - como, por exemplo, a publicidade e a grande mídia. É diferente da maneira como os trabalhadores vêm o caminho do desenvolvimento a partir da produção e a formação que liberta a inteligência e a criatividade.

 A elite mais progressista hoje usa modelos que "impactam" a sociedade de modo global. As formulas que os idealistas, filósofos e revolucionários sempre incentivaram - solidariedade, trabalho voluntário, cooperação, criação de recursos de vida saudável para os mais pobres - passam a ser considerados como não prejudiciais aos princípios do lucro empresarial. É um grande passo para um estrato social anteriormente parasita e predador do planeta com a sua humanidade.
                                                             

domingo, 9 de setembro de 2012

Realidade e esperança ou ficção alienante


9 DE SETEMBRO DE 2012 - 9H08 

Informação sobre realidade e esperança com participação popular


As grandes empresas midiáticas combatem a censura e defendem, como sua, a liberdade de expressão. O que isto acoberta é a censura que fazem às informações que contrariam seus interesses políticos, negando a liberdade de expressão aos que não caem em suas graças. Essas empresas dominam os meios de informação social que atingem a maioria dos cidadãos brasileiros e formam a opinião pública que se mantém subordinada aos interesses políticos da velha elite. 

Por Zillah Branco*


Um exemplo recente foi, depois da divulgação massiva, e repetida anos a fio até à exaustão, de um tanque chinês ameaçando um estudante que protestava na Praça Tienamem, apenas deu uma rápida imagem de um trator de Israel que matou em agosto de 2012, uma jovem norte-americana que protestava contra a destruição de casas palestinas. 

No Brasil pode-se fazer uma experiência saudável substituindo na TV, durante uma semana, os canais da grande mídia considerada informativa, pelos canais abertos NBR, Brasil, Escola, Senado, Câmara e Justiça. O efeito é o de um tratamento rápido de desintoxicação mental, como os SPAs vendem, para higienização cerebral. O bem estar imediato é propiciado pela ausência das promoções dos produtos e ideias dos senhores do mercado, e o desfilar de crimes e acidentes que animam o que a mídia considera ser o noticiário. 

Ficamos livres de uma pressão diária que neurotiza a população com o medo de sair à rua. Esta tensão amedrontadora desperta, em quem sofre de algum desequilíbrio mental, a vontade de revidar com violência. O número de atos de loucura nas ruas são crescentes no Brasil, tal como já era nos Estados Unidos.

Longe da fabricação da neurose coletiva reduz-se o acumulo perverso de informações indevidas e mal orientadas - uma espécie de celulite cerebral - que imperceptivelmente vamos assimilando com a ficção da realidade nacional transmitida pela mídia interessada em mostrar o encanto de uma classe social que, do alto da sua riqueza, não conhece as necessidades de sobrevivência que o povo suporta; que paga para ser servida dentro e fora da própria casa evitando pensar e cumprir tarefas "menores" diariamente; que contrata médicos famosos e tecnologias avançadas para tratar qualquer doença; que não toma chuva carregando a criança e mais os pacotes com as compras do supermercado; que dispõem de transporte aéreo para não se sujeitar ao trânsito quando vai gozar dias de férias em mansões de veraneio ou hotéis de luxo; que não se preocupa com a "baixa" que o INSS deve dar por dias de trabalho perdidos quando adoece; enfim, este rol de tragédias que compõem a vida de quem trabalha para viver e dar de comer à família.

Assistimos, na TV bem orientada, a descrição dos problemas reais e concretos que a maioria esmagadora dos brasileiros suporta - seca que destrói as lavouras e mata o gado, desaparecimento das fontes de água potável, intempéries que derrubam as casas matando e ferindo famílias inteiras, distâncias que impedem as crianças de frequentarem a escola e a família ser vacinada ou tratada no Posto de Saúde, desemprego, analfabetismo, desconhecimento dos direitos de cidadania, e por aí vai que a lista é enorme.

Mas também vemos que o Governo já criou soluções para todos os problemas e está tirando da miséria os milhões de brasileiros que foram sacrificados para que uma elite seja rica e parasita, que os jovens das escolas públicas concorrem à olimpíada de matemática e vários milhares têm alcançado medalhas de bronze, prata e ouro todos os anos e recebem bolsas para fazerem os cursos universitários nacionais e internacionais, que médicos discutem como melhorar o atendimento à saúde pública e vencer as imposições comerciais de medicamentos pela indústria farmacêutica, que os professores do Brasil inteiro recebe apoio direto da TV Escola para preparar as suas aulas com informações sobre todas as matérias sempre atualizadas, que os projetos de desenvolvimento estão sendo levados pela Secretaria de Defesa Civil a todas as Prefeituras para que sejam resolvidos os problemas estruturais de todas as comunidades brasileiras, e que estão sendo aperfeiçoados os serviços públicos para que cada cidadão seja ouvido e apoiado na sua solicitação sem a secura e o desinteresse com que antes era recebido por alguém que parecia estar fazendo um favor e perdendo o seu precioso 
tempo.

Essa é uma informação imparcial, verdadeira, tanto dos problemas existentes como da forma proposta de superação.

Todas essas matérias são apresentadas de maneira interessante e, como se trata da realidade que conhecemos e queremos conhecer, relatadas de maneira simples que toda a família compreende, a televisão torna-se uma utilidade e não um vício alienante como a da grande mídia. Há programas infantis, juvenis, artísticos e culturais que distraem e informam animando a criatividade da nossa gente e libertando a formação cultural dos brasileiros.

Comparando as "duas realidades" informadas, que correspondem às dos "dois brasis", percebe-se com clareza a diferença de cultura e de intenções entre os governantes que lutam pelo desenvolvimento do país e pelo atendimento público da maioria esmagadora dos brasileiros, e os "formadores de opinião pública" com a criação de ilusões sobre a facilidade na ascensão social pela via do consumismo e da quebra dos valores humanos, e com a seleção da criminalidade como panorama dominante na sociedade. 

O sociólogo norte americano Richard Sennett, autor de "Trabalho e Cooperação no Capitalismo Moderno", refere o despertar da sua intuição em 1996 para a crise do sistema, quando em Davos assistiu às discussões entre os financistas (que diziam "porque discutir por causa de um bilhão de dólares?") que eram considerados pelos políticos mundiais como "gurus" na orientação dos governantes. Para eles a realidade era representada pelos "bilionários" e não pelas nações e seus povos. 

Os critérios financistas criados pelo neoliberalismo, que conduziram o sistema ao "Estado Mínimo" e ao poder das corporações, está no cerne da destruição planetária da natureza e dos valores humanos dos povos.

Onde está a liberdade de expressão: no retrato da realidade com seus problemas reais que o Governo enfrenta ou na ficção novelística que ressalta os crimes que assolam as sociedades onde a saída é individual pela via da minoritária elite?

Que formação mental e cultural está sendo oferecida aos cidadãos brasileiros e, principalmente, às crianças e jovens que estão formando a sua personalidade?

Na defesa da liberdade de expressão - ficções sociais e falsear a realidade nacional sem mostrar os passos dos governantes que inspiram confiança na construção de um Brasil desenvolvido e humanizado com a implantação da democracia nas instituições e no processo educacional -, a mídia comete um crime que deve ser analisado urgentemente.

Para mascarar a responsabilidade por fragilizar a sociedade e o Estado, a grande mídia contrata bons profissionais para apresentar fatias da realidade onde são destacados os talentos e a criatividade de alguns brasileiros que serão apoiados por créditos bancários para terem êxito no mercado "livre". A ideia de benefício coletivo vai apenas até uma cooperativa, quase sempre coordenada por uma organização maior, mas não se expande pela sociedade como semente do desenvolvimento nacional.

* Socióloga, militante comunista e colaboradora do Vermelho.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

A Justiça e as Leis





2 DE SETEMBRO DE 2012 - 6H29 

Zillah Branco: A Justiça e as Leis


Em uma sociedade dominada por corporações, multinacionais e grupos de pressão que conduzem as elites nacionais a exercerem o mando, que lhes dá privilégios de classe sobre as populações trabalhadoras, as leis carregam um compromisso com a defesa da estabilidade do sistema em nome da justiça humana que paira como uma utopia. 

Por Zillah Branco*


Tal diferença leva os que se sentem oprimidos por esta realidade, seja no exercício das suas atividades de sobrevivência seja nas suas convicções intelectuais, a compensarem a carência de justiça social com a esperança na justiça divina como a sua meta ideal.

Vivemos em um Estado de Direito organizado historicamente através de normas de comportamento e leis aprovadas pelos poderes constituídos. No Brasil atravessamos um período de profundas mudanças que alteram o rumo da história no sentido do desenvolvimento nacional que assegure a independência no concerto mundial das Nações e a formação da consciência de cidadania extensiva a toda população, qualquer que seja a sua situação social, a sua idade, a sua origem racial, e as características da sua condição física.

Este processo de transformação é sofrido como um tipo de guerra civil e os
militantes que se entregam como soldados para promover as mudanças
necessárias suportam situações que contrariam, muitas vezes, os seus princípios éticos e a sua opção pessoal, assim como em uma guerra armada o soldado mata sem se tornar um assassino. Difícil, quase impossível, julgar os atos cometidos nessa situação de desequilíbrio social com o modelo de pensamento conservador.

Os juízes, responsáveis por um sistema judicial que também se transforma com a meta da Justiça e da democracia, ao defenderem um modelo de equidade, só podem seguir as leis existentes onde não há espaço para a compreensão humanista considerada apenas como "sentimento". No sistema capitalista a razão exclui o sentimento e a compreensão histórica.

No julgamento feito pelo STF durante o mês de Agosto de 2012, de questões
políticas relacionadas com o uso indevido de verbas públicas em campanhas
eleitorais, ficou clara a contingência da maioria dos juízes de desconhecerem a
especificidade da sociedade em transição, em que os vícios do passado
oligárquico (como o reconhecido Caixa 2, que foge à legalidade) foram praticados por militantes que têm comprovado comportamento ético pessoal e político.

O cidadão brasileiro poderá lamentar que a Justiça no país ainda seja utópica sem a capacidade de distinguir soldados de assassinos. Lamenta também que os juízes do STF sejam os soldados do campo oposto em uma guerra civil que sempre beneficiou as elites poderosas que impediram a vigência da democracia e condenaram a maioria dos brasileiros à miséria e ao atraso.

* Zillah Branco é socióloga, militante comunista e colaboradora do Vermelho.