segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

A automedicação será inevitável no Brasil




Não é sem fundamento que os marxistas recomendam o conhecimento da realidade antes da crença nas teorias, por mais elaboradas que sejam. Dedico-me a defender o atual Governo e fico contente ao tomar conhecimento dos aperfeiçoamentos que cada Ministério introduz no funcionamento do Estado que vai sendo levado pela senda democrática.

Concordo plenamente com as campanhas que o Ministério da Saúde e a mídia fazem para que o cidadão brasileiro abandone os velhos hábitos de recorrer às tradicionais mezinhas que a avó ensinava, e que deixe de comprar os medicamentos sem antes recorrer ao médico. No plano teórico estamos de acordo, mas na prática, pelo menos no meu caso, isto é uma utopia que leva à falta absoluta de tratamento.

Para marcar uma consulta médica no SUS em Outubro de 2011 mandaram-me antes fazer um exame básico com data de 17/11/11. Fiz no horário determinado, mas só depois de um mês, com os resultados na mão eu poderia solicitar a consulta. No dia aprazado compareci, mas era véspera de Natal e o enfermeiro dera uma “saidinha” sem hora para voltar. Dias depois a Agente de Saúde levou-me a indicação de consulta marcada para o dia 28 de Dezembro.

Cheguei cedo para evitar a fila e fui bem atendida por um enfermeiro que preencheu a ficha médica com todo o histórico que relatei. Pediu-me para esperar a médica que entraria às 13 horas. Chegou às 14horas e começou a atender outra fila. Mais meia hora, e o enfermeiro trouxe uma receita que eu não havia pedido e, para surpresa minha afirmou que, para ser atendida pela médica deveria voltar na 4ª feira para solicitar.
Como eu estava com dores reumáticas muito fortes, não pude ir senão no dia 18 de Janeiro, e obtive a promessa de que seria atendida no dia 31 de Março.

Tentei procurar alguém que me abrisse outra porta, com outro médico ou em outro Centro de Atendimento do SUS. Foi nesta investigação que deu em zero para o tratamento, que fiquei sabendo o seguinte: os médicos são contratados pela Prefeitura, assim como os que administram os serviços do SUS. Forma-se uma panelinha que organiza filas para inscrição disto e daquilo, que manda fazer exames básicos que protelam a data da consulta, e que não informam o SUS que a médica que deveria entrar às 8 e às 13horas todos os dias chega às 10 e às 14horas, reduzindo à metade o serviço que se acumula indefinidamente.

Até aí eu já estava tomando o chá que a vizinha disse ser ótimo e achei melhor perguntar na farmácia qual o remédio mais adequado e genérico para o meu tratamento.

Havia de ficar com a consciência pesada por praticar o autoatendimento que o Ministro da Saúde e eu mesmo condenamos? E quem iria tratar de mim? Pelo menos não tinha que ir para as filas às 4ª feiras nem ficar com cara de paciente subdesenvolvida quando prometiam esta provável atenção médica (cuja eficiência profissional já ponho em dúvida) para alguns meses mais tarde.

Mas nem sempre dependi do SUS. Há alguns anos deixei de pagar um convênio médico que durante mais de um ano prometeu uma consulta especializada mas não conseguiu preencher o lugar do médico na cidade em que eu moro. Levei o caso ao Tribunal, processei a empresa responsável pelo convênio, ganhei a causa mas não a indenização “porque o Tribunal não sabe onde cobrar”.
São tantos os absurdos oferecidos ao cidadão brasileiro em nome do Estado, que a gente cansa até de reclamar.

                            Zillah Branco

sábado, 11 de fevereiro de 2012

O INSS pune os trabalhadores que emigram




Se eu não tivesse sofrido esta punição teria dificuldade em acreditar que é verdade. Infelizmente corresponde a uma norma no INSS ao realizar a contagem de tempo de trabalho em Portugal para completar o que o cidadão cumpriu no Brasil antes de ser impelido à emigração. O problema é que para o INSS o tempo em que o brasileiro trabalhou fora do seu país significa um desvalor”, quer dizer, uma perda do valor da aposentadoria. Ao mesmo tempo em que soma o número de meses trabalhados nos dois países, deduz no valor da aposentadoria o mesmo período em que foi trabalhador emigrante. Foi assim que, para ter direito ao salário mínimo por tempo de serviço, somaram parte do tempo que trabalhei em Portugal e deduziram dois terços do valor do salário mínimo nacional para avaliar a aposentadoria a que tenho direito. Mais um pouco e, para merecer o título de aposentadoria no meu país eu deveria pagar pelo crime de ter emigrado ainda jovem.

Confesso não conseguir entender este raciocínio adotado pelo INSS, que para mim é um absurdo sem qualquer nexo. Costumo usar a lógica comum da vida onde 1+1 é sempre igual à sua soma, 2. E estou certa de que a maioria dos cidadãos brasileiros que esperam viver com a aposentadoria que lhes cabe, pensam com a mesma lógica que eu.

Então emigrar é crime no Brasil? Para que se concretize esta prova foram feitos os convénios entre as instituições previdenciárias dos dois países? Avisem, então, os cidadãos que saem do seu país por razões de força maior: insegurança (durante os 21 anos de ditadura) ou falta de emprego nos anos de crise. Ninguém enfrenta as dificuldades da emigração por gosto, a não ser os que podem ir e voltar como turistas. Mas será necessário explicar coisa tão óbvia?

O Estado brasileiro precisa, urgentemente, de uma limpeza dos vícios irresponsáveis e anti-democráticos que estão colados às suas normas de funcionamento. São infiltrações que minam a estrutura que deveria organizar as instituições, sacrificando os de baixo. Enquanto no alto existem imensas fortunas entregues a título de aposentadoria ou complemento salarial aos ilustres corporativos do Judiciário e dos outros poderes, em baixo paga-se um terço do salário mínimo depois de um processo que levou nove anos para terminar. Os de cima e os de baixo são igualmente cidadãos brasileiros, ou não? O preço do arroz e do feijão, pelo menos, é equivalente para ricos e pobres.


Ao criticar o Estado na forma como atende aos cidadãos das várias classes socioeconómicas não me identifico com a oposição ao Governo atual, mas sim aponto os problemas reais de pouca visibilidade para os que olham de cima para baixo. Também não acuso os funcionários que cumprem normas arcaicas e determinações mal estudadas à luz do processo democrático que se pretende instaurar. Desvendo as responsabilidades funcionais de setores dos serviços institucionais e deixo aos que devem analisar a eficiência da organização, a função de escolher funcionários capacitados para cumprirem os programas de ação e os planos de desenvolvimento do Estado. Em síntese, a culpa da ineficiência dos serviços do Estado não é dos funcionários que atendem diretamente o público, mas das chefias responsáveis pelo gestão e programação dos serviços. Não basta dar orientação sobre o comportamento afável com que se deve tratar os cidadãos, é preciso que não estejam metendo a faca no coração de quem reivindica os seus direitos disfarçada com boas maneiras.