Não é sem fundamento que os marxistas recomendam o
conhecimento da realidade antes da crença nas teorias, por mais elaboradas que
sejam. Dedico-me a defender o atual Governo e fico contente ao tomar
conhecimento dos aperfeiçoamentos que cada Ministério introduz no funcionamento
do Estado que vai sendo levado pela senda democrática.
Concordo plenamente com
as campanhas que o Ministério da Saúde e a mídia fazem para que o cidadão
brasileiro abandone os velhos hábitos de recorrer às tradicionais mezinhas que
a avó ensinava, e que deixe de comprar os medicamentos sem antes recorrer ao
médico. No plano teórico estamos de acordo, mas na prática, pelo menos no meu
caso, isto é uma utopia que leva à falta absoluta de tratamento.
Para marcar uma
consulta médica no SUS em Outubro de 2011 mandaram-me antes fazer um exame
básico com data de 17/11/11. Fiz no horário determinado, mas só depois de um
mês, com os resultados na mão eu poderia solicitar a consulta. No dia aprazado
compareci, mas era véspera de Natal e o enfermeiro dera uma “saidinha” sem hora
para voltar. Dias depois a Agente de Saúde levou-me a indicação de consulta
marcada para o dia 28 de Dezembro.
Cheguei cedo para
evitar a fila e fui bem atendida por um enfermeiro que preencheu a ficha médica
com todo o histórico que relatei. Pediu-me para esperar a médica que entraria
às 13 horas. Chegou às 14horas e começou a atender outra fila. Mais meia hora,
e o enfermeiro trouxe uma receita que eu não havia pedido e, para surpresa
minha afirmou que, para ser atendida pela médica deveria voltar na 4ª feira
para solicitar.
Como eu estava com
dores reumáticas muito fortes, não pude ir senão no dia 18 de Janeiro, e obtive
a promessa de que seria atendida no dia 31 de Março.
Tentei procurar alguém
que me abrisse outra porta, com outro médico ou em outro Centro de Atendimento
do SUS. Foi nesta investigação que deu em zero para o tratamento, que fiquei
sabendo o seguinte: os médicos são contratados pela Prefeitura, assim como os
que administram os serviços do SUS. Forma-se uma panelinha que organiza filas
para inscrição disto e daquilo, que manda fazer exames básicos que protelam a
data da consulta, e que não informam o SUS que a médica que deveria entrar às 8
e às 13horas todos os dias chega às 10 e às 14horas, reduzindo à metade o
serviço que se acumula indefinidamente.
Até aí eu já estava
tomando o chá que a vizinha disse ser ótimo e achei melhor perguntar na
farmácia qual o remédio mais adequado e genérico para o meu tratamento.
Havia de ficar com a
consciência pesada por praticar o autoatendimento que o Ministro da Saúde e eu
mesmo condenamos? E quem iria tratar de mim? Pelo menos não tinha que ir para
as filas às 4ª feiras nem ficar com cara de paciente subdesenvolvida quando
prometiam esta provável atenção médica (cuja eficiência profissional já ponho
em dúvida) para alguns meses mais tarde.
Mas nem sempre dependi
do SUS. Há alguns anos deixei de pagar um convênio médico que durante mais de
um ano prometeu uma consulta especializada mas não conseguiu preencher o lugar
do médico na cidade em que eu moro. Levei o caso ao Tribunal, processei a
empresa responsável pelo convênio, ganhei a causa mas não a indenização “porque
o Tribunal não sabe onde cobrar”.
São tantos os absurdos
oferecidos ao cidadão brasileiro em nome do Estado, que a gente cansa até de
reclamar.
Zillah Branco