terça-feira, 9 de outubro de 2012

Desserviço ao Judiciário revela o poder midiático




                                                                                                           Portal Vermelho, 07/10/12

Não sobram dúvidas de que o "mensalão", apregoado como "o julgamento do século"
pela midia, foi um golpe político com objetivos eleitorais imediatos. O mais triste resultado
do evento que substituiu programas televisivos durante mais de um mês, foi a quebra da
confiança cidadã na Justiça e na estrutura superior do sistema judiciário no Brasil.



Recolhendo opiniões populares percebe-se a surpresa com a visível intenção política de
juízes que, antes de desvendarem (como em uma novela cansativa) as suas fragilidades
humanas e o aparato antiquado e de formalismo que soa como falsidade, eram
considerados como verdadeiros sábios capazes da necessária imparcialidade para não se
deixarem contaminar (corromper) pelas mazelas dos simples viventes. A decepção foi
agravada pela indignação com os altos salários e privilégios, financeiros e sócio-políticos,
extraídos de uma Nação que ainda usufrui da miséria da maioria dos cidadãos.

"Talvez seja o momento de se rever este terceiro poder que está totalmente do lado de fora
do sistema democrático brasileiro", diz um idoso, e "integrar o sistema judiciário no
serviço público onde faz falta para adequar as leis às realidades". Temos encontrado
promotores e mesmo juízes que constroem caminhos democráticos para combater os
crimes e apoiar os cidadãos nas dificuldades burocráticas que emperram as soluções
justas no relacionamento com as instituições. São a versão progressista do sistema
judiciário que, devagar, chega a organismos superiores como o CSJ e a Polícia Federal
que estão ao alcance, e sintonizados com as necessidades, do cidadão comum. 

A distância que a elite cria com os seus privilégios e um padrão de comportamento
rebuscado é um invencível obstáculo aos programas de democratização da sociedade. O
conceito de "justiça" é compreendido por qualquer cidadão interessado, mesmo que não
tenha tido a oportunidade de fazer cursos escolares e de conhecer o jargão jurídico. O
povo suporta as injustiças criadas históricamente pela oligarquia dominante desde que
possa acreditar que os poderes políticos trabalham para superá-las. Depois de assistir a
exibição midiática a que se prestou o STJ, em que condenou militantes do PT (vitimados
pelas condições do sistema político criado pela elite brasileira há dezenas de anos) como
se fossem corruptos, perdeu a confiança nos juízes que, afinal, fizeram o jogo da
oposição em período eleitoral. 

Que justiça é essa alheia aos verdadeiros problemas que empobrecem milhôes de
brasileiros sem moradia, sem atendimento médico suficiente, com creches e escolas
precárias para os filhos, sem as infra-estruturas necessárias para assegurar a higiene e a
segurança pública, com a ameaça permanente de agressões e acidentes nas ruas, com
salários, bolsas ou pensões insuficientes, e que mesmo assim acreditam e apoiam os
programas governamentais que abrem um caminho democrático que oferecerá um futuro
melhor para os seus filhos? 

Este povo dá lições de solidariedade e de construção de justiça social. Não exibe o seu
saber através da mídia, não exige pagamentos de cinquenta vezes o salário mínimo e
mais ajudas de custo, tem paciência e aguenta o sacrifício para superar os erros da elite
cometidos em séculos de desmandos até que seja instaurada a democracia no Brasil, não
confunde militantes que lutam sujeitando-se às condições criadas pelas oligarquias com
os banais corruptos, nem soldados com assassinos, sabe que atravessamos um
momento difícil de luta por mudanças decisivas pela independência nacional e o
desenvolvimento da população, tem consciência de cidadania, por isso constrói um futuro
melhor para os brasileiros.


* Zillah Branco é socióloga, militante comunista e colaboradora do Vermelho

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