domingo, 9 de setembro de 2012

Realidade e esperança ou ficção alienante


9 DE SETEMBRO DE 2012 - 9H08 

Informação sobre realidade e esperança com participação popular


As grandes empresas midiáticas combatem a censura e defendem, como sua, a liberdade de expressão. O que isto acoberta é a censura que fazem às informações que contrariam seus interesses políticos, negando a liberdade de expressão aos que não caem em suas graças. Essas empresas dominam os meios de informação social que atingem a maioria dos cidadãos brasileiros e formam a opinião pública que se mantém subordinada aos interesses políticos da velha elite. 

Por Zillah Branco*


Um exemplo recente foi, depois da divulgação massiva, e repetida anos a fio até à exaustão, de um tanque chinês ameaçando um estudante que protestava na Praça Tienamem, apenas deu uma rápida imagem de um trator de Israel que matou em agosto de 2012, uma jovem norte-americana que protestava contra a destruição de casas palestinas. 

No Brasil pode-se fazer uma experiência saudável substituindo na TV, durante uma semana, os canais da grande mídia considerada informativa, pelos canais abertos NBR, Brasil, Escola, Senado, Câmara e Justiça. O efeito é o de um tratamento rápido de desintoxicação mental, como os SPAs vendem, para higienização cerebral. O bem estar imediato é propiciado pela ausência das promoções dos produtos e ideias dos senhores do mercado, e o desfilar de crimes e acidentes que animam o que a mídia considera ser o noticiário. 

Ficamos livres de uma pressão diária que neurotiza a população com o medo de sair à rua. Esta tensão amedrontadora desperta, em quem sofre de algum desequilíbrio mental, a vontade de revidar com violência. O número de atos de loucura nas ruas são crescentes no Brasil, tal como já era nos Estados Unidos.

Longe da fabricação da neurose coletiva reduz-se o acumulo perverso de informações indevidas e mal orientadas - uma espécie de celulite cerebral - que imperceptivelmente vamos assimilando com a ficção da realidade nacional transmitida pela mídia interessada em mostrar o encanto de uma classe social que, do alto da sua riqueza, não conhece as necessidades de sobrevivência que o povo suporta; que paga para ser servida dentro e fora da própria casa evitando pensar e cumprir tarefas "menores" diariamente; que contrata médicos famosos e tecnologias avançadas para tratar qualquer doença; que não toma chuva carregando a criança e mais os pacotes com as compras do supermercado; que dispõem de transporte aéreo para não se sujeitar ao trânsito quando vai gozar dias de férias em mansões de veraneio ou hotéis de luxo; que não se preocupa com a "baixa" que o INSS deve dar por dias de trabalho perdidos quando adoece; enfim, este rol de tragédias que compõem a vida de quem trabalha para viver e dar de comer à família.

Assistimos, na TV bem orientada, a descrição dos problemas reais e concretos que a maioria esmagadora dos brasileiros suporta - seca que destrói as lavouras e mata o gado, desaparecimento das fontes de água potável, intempéries que derrubam as casas matando e ferindo famílias inteiras, distâncias que impedem as crianças de frequentarem a escola e a família ser vacinada ou tratada no Posto de Saúde, desemprego, analfabetismo, desconhecimento dos direitos de cidadania, e por aí vai que a lista é enorme.

Mas também vemos que o Governo já criou soluções para todos os problemas e está tirando da miséria os milhões de brasileiros que foram sacrificados para que uma elite seja rica e parasita, que os jovens das escolas públicas concorrem à olimpíada de matemática e vários milhares têm alcançado medalhas de bronze, prata e ouro todos os anos e recebem bolsas para fazerem os cursos universitários nacionais e internacionais, que médicos discutem como melhorar o atendimento à saúde pública e vencer as imposições comerciais de medicamentos pela indústria farmacêutica, que os professores do Brasil inteiro recebe apoio direto da TV Escola para preparar as suas aulas com informações sobre todas as matérias sempre atualizadas, que os projetos de desenvolvimento estão sendo levados pela Secretaria de Defesa Civil a todas as Prefeituras para que sejam resolvidos os problemas estruturais de todas as comunidades brasileiras, e que estão sendo aperfeiçoados os serviços públicos para que cada cidadão seja ouvido e apoiado na sua solicitação sem a secura e o desinteresse com que antes era recebido por alguém que parecia estar fazendo um favor e perdendo o seu precioso 
tempo.

Essa é uma informação imparcial, verdadeira, tanto dos problemas existentes como da forma proposta de superação.

Todas essas matérias são apresentadas de maneira interessante e, como se trata da realidade que conhecemos e queremos conhecer, relatadas de maneira simples que toda a família compreende, a televisão torna-se uma utilidade e não um vício alienante como a da grande mídia. Há programas infantis, juvenis, artísticos e culturais que distraem e informam animando a criatividade da nossa gente e libertando a formação cultural dos brasileiros.

Comparando as "duas realidades" informadas, que correspondem às dos "dois brasis", percebe-se com clareza a diferença de cultura e de intenções entre os governantes que lutam pelo desenvolvimento do país e pelo atendimento público da maioria esmagadora dos brasileiros, e os "formadores de opinião pública" com a criação de ilusões sobre a facilidade na ascensão social pela via do consumismo e da quebra dos valores humanos, e com a seleção da criminalidade como panorama dominante na sociedade. 

O sociólogo norte americano Richard Sennett, autor de "Trabalho e Cooperação no Capitalismo Moderno", refere o despertar da sua intuição em 1996 para a crise do sistema, quando em Davos assistiu às discussões entre os financistas (que diziam "porque discutir por causa de um bilhão de dólares?") que eram considerados pelos políticos mundiais como "gurus" na orientação dos governantes. Para eles a realidade era representada pelos "bilionários" e não pelas nações e seus povos. 

Os critérios financistas criados pelo neoliberalismo, que conduziram o sistema ao "Estado Mínimo" e ao poder das corporações, está no cerne da destruição planetária da natureza e dos valores humanos dos povos.

Onde está a liberdade de expressão: no retrato da realidade com seus problemas reais que o Governo enfrenta ou na ficção novelística que ressalta os crimes que assolam as sociedades onde a saída é individual pela via da minoritária elite?

Que formação mental e cultural está sendo oferecida aos cidadãos brasileiros e, principalmente, às crianças e jovens que estão formando a sua personalidade?

Na defesa da liberdade de expressão - ficções sociais e falsear a realidade nacional sem mostrar os passos dos governantes que inspiram confiança na construção de um Brasil desenvolvido e humanizado com a implantação da democracia nas instituições e no processo educacional -, a mídia comete um crime que deve ser analisado urgentemente.

Para mascarar a responsabilidade por fragilizar a sociedade e o Estado, a grande mídia contrata bons profissionais para apresentar fatias da realidade onde são destacados os talentos e a criatividade de alguns brasileiros que serão apoiados por créditos bancários para terem êxito no mercado "livre". A ideia de benefício coletivo vai apenas até uma cooperativa, quase sempre coordenada por uma organização maior, mas não se expande pela sociedade como semente do desenvolvimento nacional.

* Socióloga, militante comunista e colaboradora do Vermelho.

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